O trabalho artístico do Cataventoré liga-se umbilicalmente à pesquisa da música de raiz no Brasil, tendo, por sinal, surgido a partir de viagens ao Nordeste com esta finalidade. O encontro com a imemorial tradição das bandas de pífanos coincidiu com um anseio dos fundadores da banda de se montar um trabalho voltado para a música brasileira.
As pesquisas se deram em mão dupla: de um lado, procurou-se conhecer os procedimentos das bandas de pífanos em seu ambiente tradicional e por outro, tinha-se o espaço urbano (de capital) para explorar o potencial da instrumentação típica das bandas. Com efeito, nos primeiros dois anos de atividade, cerca de 90% das apresentações do Cataventoré se deram em espaços alternativos: ruas, praças, parques, feiras, saguões, etc.
Dentro do próprio grupo já se encontrava a raiz da cultura popular, na pele de um dos fundadores, Carlos Santos, que trouxe para o trabalho da banda sua vivência no interior mineiro como congadeiro e na folia de reis, além de ter articulado, dentro do Cataventoré, o boi-da-manta, com o qual o grupo brinca em apresentações de rua. Em Baldim/MG, ele reativou uma tradição de família, com o boi-da-manta Eli Jibóia, uma homenagem a seu tio avô, de quem herdou o brinquedo.
No Nordeste, juntos ou individualmente, os integrantes da banda visitaram vários Estados: Ceará, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Sergipe e estabeleceram contato com bandas também da Bahia e Paraíba, sempre atentos às universalidades e particularidades das artes ‘pifânicas’, ‘zabumbísticas’, 'rabequísticas', entre outras artes, deste vasto território.
O impulso pesquisador levou outro dos fundadores, Daniel Magalhães, a percorrer o Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, onde grupos de pifeiros e gaiteiros centenários também ali se enraizaram, e contribuiu para integrar esta importante região mineira à geografia das bandas de pífanos brasileiras, através de publicações, como o CD “Bandas de Taquara e Música de Pífano em Minas Gerais” (2007), os documentários “Pífanos do Congado” (2008) e "Canudeiros" (2011) e os livros "Canudos, gaitas e pífanos: as flautas do norte de Minas" (2010) e "Cancioneiro do Jequitinhonha: 160 partituras para flauta" (2010). A pesquisa teve reconhecimento do IPHAN, em 2012, através do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, na categoria Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial, com a ação "Flautas Tradicionais do Vale do Jequitinhonha".
Outra vertente de pesquisa com desdobramentos no trabalho artístico do Cataventoré é a fabricação própria dos instrumentos musicais, que vieram a se somar àqueles trazidos do Nordeste e outras regiões. O instrumental é, em grande parte, artesanal e oriundo da música tradicional brasileira, definindo a estética do grupo.